Só o Tempo

 

Querido diário, ontem me bateu um agonia por não ter mais Giovanni, em pensar que nunca mais irei poder vê-lo, nunca mais poderei tocá-lo, me bate um desespero, me sinto sufocada por dentro, é como se eu tivesse vivido um sonho e acordado num pesadelo. Eu que já vivi um amor a distância e me lamentava por não poder amá-lo, agora me lamento por ter mais distante ainda uma pessoa que está tão perto.

Para afogar as mágoas comprei uma garrafa de vinho vagabundo e enchi a cara, fiquei bêbada fácil, desabafei com uma amiga colorida, e não sei, sei que é chato para ela me ouvir falar de outro cara.

Falei dele a noite inteira, como se ele ainda fosse meu, como se eu fosse vê-lo no fim de semana agora folga dele, como se ele ainda estivesse em meus domínios.

Mais uma vez, eu venho transformar em texto o que me consome por dentro, a falta dele, aceitar o fim, ter flexionabilidade aos fatos, encarar a realidade e fazer meu subconsciente se sentir bem com isso. Quase impossível. Comecei a ler textos antigos e vi um comentário de um leitor que para mim serviu como um banho de água fria:

- Anônimo03/08/13 10:31

Achei bem feito pra vc. Acompanho seu blog e o que eu vejo é que você é interesseira. Como esperava amor se a primeira coisa que olhou nele foi a grana, o carro e o status social? Francamente...
Aproveite a oportunidade para crescer!

Confesso que ri escandalosamente desse comentário por alguns segundos.

Esse comentário me fez lembrar que eu não presto, que a mulher fria e calculista no início da relação não convém com essa que sofre agora sem limites e só se lamenta. Foi como um tapa na cara para acordar, um banho de água fria para eu deixar de frescura.

Realmente Giovanni não era ninguém até passar por mim com um carrão da Honda e me oferecer carona, e aí então eu passei a olhá-lo com outros olhos. Giovanni passou a ser para mim o homem ideal, tudo que eu sonhava em um homem, eu encontrei nele.

O leitor está certo sim, eu fui interesseira, e me aproximei dele pelo que ele tinha, e pelo poder que ele transpirava. Aproveitei que ele se rendeu aos meus pés para tentar fisgá-lo, fui sedutora, fria e calculista. Mas me perdi em meus cálculos, me apaixonei por ele. E cometi erros incabíveis como toda mulher apaixonada e de gênio forte como eu cometeria, aí sim, eu passei a querê-lo com intensidade, amei com paixão, como mulher de verdade.

Esse leitor ou tantos outros pode até não acreditar, mas foi paixão sim de verdade, uma paixão verdadeira e intensa. Ficava parada, calada, o admirando e ele sorria para mim com ternura. Às vezes quando eu estava distante sentia o cheiro do perfume, do cigarro na rua. Ansiava, desejava com muito tesão os nossos encontros. Eu fui louca por ele, e isso podem duvidar, mas ninguém pode negar.

Giovanni não me quer mais, nem para sexo, nem para nada. Em outras palavras, pode dizer que ele enjoou de mim. Houve tempos em que pensei que era macumba, olho gordo, mas, como o leitor aí falou, eu posso estar colhendo o que plantei, com a minha forma errada de me interessar pelas pessoas. Talvez seja por isso que eu rezo, rezo, e nenhum santo, nenhuma divindade parece escutar o meu clamor. Talvez eu mereça essa agonia.

Giovanni me tratava como uma princesa no início, como prioridade, me respeitou além do sexo, assumiu a nossa relação para os colegas de trabalho. Eu pequei, eu coloquei as coisas a perder. Tomei posse do que não era meu, cobrava como namorada de uma pessoa que era apenas meu ficante e olhe lá. Para agradá-lo e tê-lo comigo fiz muitas coisas, gastei muita energia que poderia ter sido utilizada em outras coisas da minha vida.

Não sei se me arrependo ou se não me arrependo. Arrependo-me porque investi e perdi, sofri. E não me arrependo porque eu fiz tudo que eu poderia fazer, lutei até cansar, até ver que não tinha mais nada a fazer.

Gosto dele, sinto vontade de estar com ele, tantas fantasias, loucuras na cama que pretendíamos fazer, acabou. O amor é uma grande alegria que acaba em tristeza. No amor, sempre um dos dois vai gostar mais. Sempre um vai ter que sofrer. E quem tá sofrendo sou eu. Hoje quem sofre sou eu.

Muitas vezes durmo até bem, sonho com ele e acordo mal. Acordo com cólica de preocupação e incômodo. Passo o dia mole, parada, pensando no que aconteceu, ou melhor, no que não aconteceu, às vezes ainda tenho vontade de ligar para ele, perguntar o que eu fiz para ele fazer isso comigo. Mas não adianta falar com quem não quer nos ouvir.

Eu prometi no mar a Yemanjá, e também a dama da noite Maria Padilha, que não vou mais ligar para ele, pelo menos por 3 meses. Por 3 meses eu vou sumir da vida dele, não vou ligar, não vou falar com ele, nem curtir coisas que ele posta nas redes sociais. E depois, em novembro, já no fim do ano vou dar uma desculpa qualquer, para me reaproximar, tentar uma amizade, recomeçar tudo do zero.

Nesse primeiro mês ele vai dar graças a Deus por não ver mais o telefone dele tocando insistentemente, por não ler mais mensagens cobrando coisas que não compete a ele. Por não ver mais essa cara chata procurando por ele.

No segundo mês, ele vai estranhar, vai se perguntar que chumbinho eu tomei, vai se perguntar se eu mudei ou se estou com outro. Vai se perguntar o porquê sumi da vida dele.

No terceiro mês ele vai sentir minha falta, vai esquecer do quão problemática era a nossa relação, e vai querer me ter na cama de novo.

Só o tempo pode fazer algo por mim, apagar as mágoas, me devolver o conforto ao meu coração, ou me fazer reconquistar pelo menos o respeito dele novamente.