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quarta-feira, janeiro 25, 2012

O que me impede de ajudar




Porque naquelas casas, se o acolhiam, se lhe davam comida e dormida, era como cumprindo uma obrigação fastidiosa. Os donos da casa evitavam se aproximar dele, e o deixavam na sua sujeira, nunca tinham uma palavra boa para ele. (...) Mas desta vez estava sendo diferente. Desta vez não o deixaram na cozinha com seus molambos, não o puseram a dormir no quintal. Deram-lhe roupa, um quarto, comida na sala de jantar. (...) Então os lábios de Sem-Pernas se descerraram e ele soluçou, chorou muito encostado ao peito de sua mãe. E enquanto a abraçava e se deixava beijar, soluçava porque a ia abandonar e, mais que isso, a ia roubar. E ela talvez nunca soubesse que o Sem-Pernas sentia que ia furtar a si próprio também”
Querido diário, foi lendo o livro Capitães de Areia de Jorge Amado, do qual fala das crianças abandonadas que pedem esmola na rua, foi que eu passei a ter um sonho:
Construir uma grande casa para abrigar crianças pobres. Nessa casa elas teriam educação, carinho e lazer, poderiam sonhar sonhos que a rua impede de sonhar. E assim contribuir com a paz da humanidade, impedindo que mais uma criança se torne um bandido de sangue frio.
Eu sempre me imaginei muito rica para fazer essa obra, sinceramente, sempre prometi que eu ia ganhar na mega sena para realizar isso, ou depois que tivesse um emprego, abrir uma conta bancária e depositar todo mês R$30,00, dinheiro destinado apenas para o cuidado das crianças pobres e realização dessa obra.
 Ontem ao sair da faculdade, e pegar ônibus para ir pra casa, eu me deparei com um menino pedindo esmola no ônibus. Quando ele entrou gritando, pensei que fosse vender alguma coisa em troca do dinheiro. Mas não, nem isso ele tinha. Apenas estava com a mão estendida para pedir alguns trocados.
E eu me neguei.
Quando o menino passou por mim, eu comecei a me perguntar, como eu sonho em fazer uma grande casa, ajudar muitas crianças pobres, e não sou capaz de dar alguns trocados para o menino que me pedia, tão pobre, tão sujo, “resíduo” da crueldade da humanidade, uma criança.
E além de negar os trocados, a um menino que com toda inocência pedia, uma hora ele pode se cansar de pedir, e começar a roubar. Eu negando aqueles trocados, contribui para o aparecimento de mais um bandido no mundo.
Eu comecei a me perguntar como eu sou capaz de sonhar, e não realizar. De ter um sonho grande, e não ser capaz de ajudar no pequeno, no pouco, no mínimo.
O que me impede de ajudar? Sei que muitas crianças pedem dinheiro para se drogar, mas se eles estiverem com fome, é claro que eles vão comprar comida. Ajudando, eu não estarei fazendo mal algum, apenas cumprindo a minha parte, que todo cidadão deveria cumprir, foi assim que Deus ensinou, certamente, é assim que Ele quer. Ou talvez seja o meu medo de faltar amanhã, afinal, eu já procurei trocados no bolso e por acaso, não encontrei, me fizeram falta. Talvez, seja a minha própria avareza, incapacidade de se desfazer dos seus bens para ajudar o próximo.
Eu não parei de pensar na minha atitude até chegar em casa. Não é a primeira vez que eu nego dinheiro a um pedidor de esmola, vou confessar, que tenho apreço apenas pelas crianças e deficientes. Mas dessa vez, a consciência pesou, dessa vez eu me questionei como eu serei capaz de ajudar no grande, se não sou capaz de ajudar no pouco.
Pensei muito na minha atitude, e afinal, eu ainda não tenho emprego, eu vivo com o dinheiro que meu pai me dar, sem avareza, totalmente mão aberta, meu pai nunca me negou nada. Mas pensando bem até que eu tenho dinheiro, não é muito, é quase nada, sabe, acontece que eu guardo as moedas de um real, cinqüenta e vinte cinco no meu cofrinho, esse é o dinheiro que eu considero meu. E É através desse dinheiro que eu vou tentar fazer a minha parte para ajudar as crianças pobres.
A cada vez que eu consegui juntar R$50,00, eu vou retirar R$5,00 e andar com esse dinheiro na bolsa dentro de um envelope, cada vez que algum necessitado me pedir, eu vou entregar um real junto com uma oração do Sagrado Coração de Jesus, assim eu poderia ajudar e levar a Palavra de Deus ao mesmo tempo, assim eu estarei levando amor de duas formas: material e espiritual.
Porque essa crianças merecem mais que esmola, merecem carinho, amor, que não tiveram. Não importa se eles são filhos de bandidos, de mães desnaturadas, se eles já roubaram bolsas de senhoras nas ruas ou carne de um supermercado para se alimentar, são apenas crianças. E que Deus possa me dar mais que dinheiro no bolso, me dê também solidariedade, sensibilidade, capacidade de ajudar essas crianças que tanto sofrem de necessidades materiais e de carência na alma.

3 comentários:

  1. Por coincidência estava pensando nisso esta manhã.Eu também tenho o costume de negar dinheiro, não consigo dar. Mas, quando estão vendendo algo compro o máximo que posso no momento e quando pedem comida principalmente. Lembro até hoje, ha uns anos atras sai com minha familia para comprar roupas e quando paramos para lanchar parou um menininho , com uns 4 anos mais ou menos, sentou entre a gente no balcão, jogou uns trocados lá, e pediu um refrigerante, a atendente riu, nós achamos interessante e pedi pro meu pai para pagar um lanche a ele também, ele escolhe e ia indo embora, a gente apontou os trocados e foi embora para dividir com a familia que estava sentada na praça. É triste isso,fico pensando algo eficaz para fazer também.
    Belo blog!

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  2. Já o livro Capitães da Areia também e sempre achei uma excelente obra do Amado Jorge! Nos leva mesmo a refletir sobre esse tipo de coisa e sobre nossas condições, por é certo que hoje vivemos melhor do que Pedro Bala e cia naquele velho trapiche à luz da lua em Salvador, mesmo assim reclamamos da vida, ousamos reclamar!
    Não se sinta culpada com essa história de ter negado o dinheiro, isso é de nós seres humanos, muitas vezes não acreditar que aquela boa ação poderia ser suficientemente grande para mudar alguma coisa na vida de quem pede, mas legal sua ideia de distribuir também a palavra de Deus, esta que sem dúvida veio para os "doentes".
    Parabéns pelo post!

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  3. mesmo com uma mínima vontade de ajudar,, vc ainda mede bem os valores antes. com isso, supervaloriza sua pretensa compaixão q não sai do papel e aumenta a humilhação da miséria de quem vc sequer ajudou.
    se vc quisesse mesmo, teria feito qq coisa. e nao se acomodaria pensando que basta saber q agiu mal.

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