Querido diário, como você já sabe, no último texto que eu
escrevi, contei que em 2014 eu tive uma das minhas maiores alegrias, que era um
sonho, mas nunca achei que seria realizado e ainda mais tão rápido. Foi o
segundo concurso da minha vida e o primeiro a ser aprovada. Ah, mas se tudo
fosse maravilhoso, se fosse como manda o figurino, se tudo seguisse o
cronograma correto e o governo abrisse concurso com o objetivo de suprir a
necessidade da população.
Passei no concurso da Perícia Criminal do meu Estado, passei
por um curso de formação na Academia de Polícia Civil de 240h, tive aulas com
os melhores profissionais do País, curso ofertado pelo governo federal e hoje
estou com diploma em casa.
Porém, nós concursados, não poderíamos ficar de braços
cruzados. De início foi montada uma comissão, que objetivava manter o diálogo
com o governo e negociar as nossas nomeações. O negócio não foi para frente, a
comissão até fez bons contatos, mas era passiva demais, não ouvia sugestões,
centralizava informações e isso só resultou em muitas brigas e desentendimentos.
Mudamos a direção, resolvemos chamar a atenção da população e do governo
através da mídia, de manifestações e claro, confrontos. Eu fui uma das
primeiras a levantar essa bandeira, muitas vezes fui comparada com dirigentes
sindicais famosos aqui do Estado, porque eu era uma das principais líderes
desse movimento, nunca gostei de tomar decisões, sempre convocava assembléia, e
aprenda, diário, quando alguém convoca uma reunião das duas uma, ou ela já sabe
o que quer e quer apenas comunicar para os outros, ou ela não sabe o quer e
quer que os outros decidam. Mas quem colocava em prática essas decisões,
aparecia nas rádios, na TV, enfrentava o governo cara a cara era eu e meu amigo
Geraldo.
Um certo, infeliz ou feliz dia, teve uma manifestação no
Instituto de Identificação daqui, e eu poxa, queria muito participar. Além de
estar a frente dessas manifestações, instituto de identificação para mim é
minha casa, eu sou papiloscopista, mesmo que ainda não contratada pelo Estado.
Então eu não iria representar a minha casa? Porém, no dia eu estaria de
plantão, coloquei um atestado médico na empresa e participei da manifestação.
Eu dei entrevista para um jornal local às 6h da manhã, e enquanto eu estava no
calor da manifestação, lutando pelos meus direitos de ser nomeada no concurso
pelo qual eu fui aprovada, minha chefe estava em casa, calçando a bota para ir
trabalhar e com a televisão ligada.
Advinha quem ela viu dando entrevista? Não teve atestado
médico que desse jeito, não teve jeito, no dia seguinte, foi rua! Fui quase
demitida por justa causa, mas nesse momento Deus iluminou a minha mente,
controlou meu ódio em relação aquela injustiça e eu fui surpreendentemente
educada, fina, civilizada. Acho que nem todo chefe, de alta classe social, se
despediu daquela empresa como eu me despedi, à alto nível! Consegui negociar
com a empresa de eu mesma me desligar e não assinar justa causa.
Na saída, eu não consegui conter as lágrimas, chorei ao me
despedir dos meus amigos, que nem eram tão amigos assim, chorei ao chegar na
portaria e sabendo que estaria saindo dali para nunca mais voltar. Meu sonho
era sair daquela empresa, mas não foi a saída que eu planejei, eu queria sair
de lá concursada, com a minha posse assinada, queria sair por cima, vitoriosa e
saí na merda.
O mais intrigante ou quem sabe algo comum é que eu sonhei que
ia ser demitida um dia antes. Seria premonição ou força da atração? Premonição!
O meu diário já sabe que eu tenho esse tipo de mediunidade, eu sonho e as
coisas acontecem, às vezes eu tenho até medo das coisas que eu sonho.
No mais, eu iria continuar com as minhas lutas, com os meus
movimentos e lutando pelos meus direitos. O mais interessante de tudo isso, é
que até o dia que eu fui demitida, nós estávamos tendo resultados positivos
sobre as manifestações, depois que eu fui demitida, a coisa magicamente começou
a desandar. Nós fomos barrados na porta da Academia de Polícia no dia da posse
dos primeiros nomeados. A partir dali, era notável, o posicionamento do governo
em relação à nossa nomeação.
O grupo desandou e desandou muito. A gente tinha reuniões
praticamente toda semana para refletir os resultados das nossas ações e tomar novas
decisões. Mas isso cansa, quando não é visto o resultado esperado. Percebi que
poucas pessoas davam a cara para bater, o pessoal morre de medo de retaliação,
de aparecer na mídia, e acabou que só eu e meu colega Geraldo aparecíamos nos
programas de rádio e TV. As pessoas só queriam resultados, mas colaborar que é
bom, nada. Eu me senti usada, e decidi parar com isso. Hoje em dia é raro eu aparecer
em algum meio de comunicação, não convoco reunião, até me afastei do pessoal,
não me envolvo mais com nada e resolvi pleitear os meus direitos na justiça.
Mas eu sei como a justiça é lenta nesse País, e esperar machuca!
Hoje estou aguardando ansiosamente um resultado positivo da
justiça e estou tentando recomeçar minha vida. Estou estudando para outro
concurso, um dos mais concorridos do País, de um nível elevadíssimo, sei que é
difícil, mas não vou desistir! E quero voltar para faculdade, de onde eu nunca
deveria ter saído, às vezes bate um desgosto enorme em pensar que eu poderia tá
me formando próximo ano e hoje estou estudando para o Enem novamente, às vezes
é vergonhoso precisar da ajuda de minha irmã de 14 anos para resolver as
questões. Mas a vida é assim mesmo!
Eu aprendi
que Deus coloca tudo no seu devido lugar, não importa onde você esteja, minha
vida parece um carrossel de tantas voltas que ela deu, e eu não sei até aonde
dizer se isso é bom ou ruim, acho que deve ser bom, nunca é tarde para
aprender, quem não aprende pelo amor, aprende pela dor! Algumas coisas são
muito injustas, outras são justas, pois apenas estou colhendo os frutos da
minha imaturidade, outras são normais, previsíveis. Deixa a água correr, água
parada apodrece, no mais, Deus coloca tudo no seu devido lugar.
qto tempo q eu nao venho aqui
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