Querido diário, grande parte da minha vida eu fui menina recatada, tímida, estudiosa, pouco vaidosa, ou nada vaidosa. Isso veio da minha educação, meus pais sempre me diziam que eu tinha que ter um namorado só depois que eu entrasse numa universidade. Eu cresci escutando isso, e levei a sério.
A minha timidez e o temor que eu tinha aos meus pais me fez me relacionar com homens muito tarde. O meu primeiro beijo eu dei aos 15 anos, com um rapaz que eu conheci da internet, meu número, moreno, grande, forte, foi uma delícia. Foi meu primeiro beijo e sem dúvida, um dos melhores da minha vida. Era tamanha a dificuldade de me relacionar com alguém que o meu primeiro grande amor, e sinceramente o único da minha vida, foi um namoro virtual, um cara que eu apenas conhecia pela internet.
Mas um namoro com direito a tudo, telefonemas 3x por dia, cuidado, carinho, sexo, ciúmes, afeto. É, afeto, mesmo que hoje eu não seja nada pra ele, eu sei que um dia eu fui alguém, um dia eu fui a menina que ele ligava pra dar explicações porque não iria poder falar comigo no fim de semana, a menina que ele compartilhava a vida dele, que alegrava as madrugadas dele seja com sexo ou com um papo bom. Da parte dele foi um afeto, da minha foi amor, muito amor. Mas matei todo esse amor, queria eu guardar um parte, porque foi muito bonito, raro, mas matei porque ele não teve nenhum respeito por mim e nem pelo que nós passamos juntos. Tempo que durou 3 anos.
Nos meus 15 anos eu era uma menina de poucos amores, mas intenso, não nego. Nos meus 15 anos eu era uma menina muito aplicada nos estudos, eu vivia para os meus estudos.
No ano de 2007 eu fiz uma prova para estudar o ensino médio numa escola técnica federal, e não passei. Esse foi um dos primeiros baques da minha vida. Sofri muito, mas Deus me trouxe sonhos novos em que eu tive que recomeçar. Sonhos como ser aprovada no vestibular.
E assim desde 2008 eu passei a estudar muito e a me preparar muito para esse momento da minha vida que iria acontecer em 2010. Eu aprendi que o primeiro passo pra a gente conseguir uma coisa é se certificar se você quer mesmo essa coisa, assim eu tive que pensar primeiro na escolha do curso. Aprendi que não tem outra solução a não ser estudar, estudei muito. E além de tudo, é claro, é preciso controlar as suas emoções, aprendi a controlar as minhas emoções. Mas eu aprendi que para controlar as nossas emoções é preciso estar seguro, se você não estiver estudado o suficiente é claro que você vai ficar nervoso, mas mesmo não estudando o suficiente tem sim como manter a calma na hora H. Se você não estudou o tanto que devia confie naquilo que você sabe, na sua capacidade, tente colocar na sua cabeça não a mensagem “eu não estudei” e sim a mensagem “eu sei”, até, porque meus queridos, várias vezes na minha vida eu vi pessoas que estudaram menos passar na frente daqueles que estudaram mais. Outra forma de se controlar mesmo não tendo estudado o suficiente é não se comparar com ninguém, não dar nem atenção ao quanto as pessoas ao seu redor parecem estar preparados, isso faz parte do confiar no seu potencial e esquecer as pessoas que te cercam.
Preparei-me, chegou o dia D, e consegui. Realizei o meu sonho de ser aprovada numa universidade federal, e na universidade que eu sempre sonhei. Passei numa ótima colocação (entre as 5 primeiras) no curso de Engenharia de Materiais. Não foi o curso que eu sonhei desde os primórdios da minha vida, eu sei que eu sou química, eu gosto de química, eu vivo pela química, mas pela minha pontuação eu não pude escolher engenharia química, e também não tive a coragem de deixar de fazer uma engenharia para escolher um curso mais “subalterno” como química bacharelado ou licenciatura. Engenharia de Materiais é um curso muito interessante, que tem muita química, que envolve coisas que eu gosto, eu não me arrependo de ter feito essa escolha, eu quero concluir, eu quero fazer mestrado, doutorado, mesmo que um dia eu vá cursar uma química licenciatura pra dizer “eu cursei a química da minha vida”. Enfim, mas eu sou feliz sim com a escolha do meu curso.
Quando eu entrei na universidade, eu não nego, entrei cheia de expectativas, como falei no início do texto, sempre escutei dos meus pais que eu deveria namorar só depois do vestibular,então pra mim tinha chegado o meu momento. Ah, eu achava que na universidade eu ia encontrar um namorado rápido, que lá ia ter muitos homens de tantos tipos, que eu poderia me entregar e confiar sem medos.
Coitada, não sabia o quanto estava equivocada, mesmo tendo passado o vestibular, os meus pais me liberassem para namorar, aquele não era o momento, e eu custei a entender isso, que todos tem uma idade pra falar, pra começar a andar, e alguns demoram muito, e eu sou dessas pessoas, eu tenho 18 anos nunca namorei. Antes eu achava que eu tinha algum defeito, alguma falha de retardamento, mas hoje eu vejo que se até hoje eu não namorei, foi porque EU quis, porque EU tenho um padrão elevado de exigência, porque se fosse pra namorar com qualquer um eu já teria namorado faz tempo e com vários caras. Mas aí vocês me perguntam, e aí vai continuar nessa exigência toda e permanecer solteira pra o resto da vida? Sim. Se eu não encontrar uma pessoa que se encaixe no meu perfil eu não vou namorar nunca, eu prefiro ser feliz sozinha, do que ser infeliz com alguém. É como eu sempre falo, dinheiro e amor próprio é o que eu me basta pra eu ser feliz.
Mas há 1 ano atrás eu não pensava assim, pelo contrário, eu me sentia a pior pessoa do mundo porque não tinha um namorado, os leitores mais antigos acompanharam os textos cheios de melancolia.
Há 1 ano atrás eu entrei na universidade com o coração palpitando, ansiosa por encontrar um alguém, e logo me apaixonei por um menino da minha sala, Julio. Pessoa errada.
E além de ele ser a pessoa errada eu também fiz tudo errado. Não esperei o tempo passar, para conhecê-lo melhor, pra saber se iria valer a pena. Fiz merda. Numa festa da universidade, eu bebi, me declarei, e fiquei com ele na frente de todo mundo, esse todo mundo são os meninos da minha sala que adoram uma baderna e zoar com a cara das pessoas. Acompanhem o episódio:
http://diariodagarotadevariasfaces.blogspot.com.br/2011/03/mulher-objeto.html
http://diariodagarotadevariasfaces.blogspot.com.br/2011/04/fama-onde-nao-cabe.html
Sério, me saem lágrimas dos olhos ao relembrar isso porque foi uma coisa que tocou a minha vida, que marcou e me sofrer calada por muito tempo.
Depois do dia que fiquei com Julio eu tive os meus dias de Geise Arruda na universidade, em que qualquer lugar que eu estivesse me olhavam atravessado, outros apontavam e riam descaradamente da minha cara. Por mais que o tempo passe eu nunca vou esquecer, e faço questão de nunca esquecer. Olhavam-me atravessado porque eu fiquei com um menino que todo mundo sabia que tinha namorada, menos eu. Ficavam rindo de mim porque foi ridículo eu ter bebido naquela festa e ter me declarado feito uma louca pra ele. Eu tive meus dias de Bruna Surfistinha quando fez sexo oral em um menino e ficou com fama de puta na escola inteira. Não eu não fiz sexo oral em Julio, mas fiquei sabendo que ele tava comentando até sobre o meu gemido, que ele tinha dito que ficou comigo sem atração nenhuma, só porque eu fui em cima dele e porque eu estava na seca.
Eu não me lembro de ter derramado uma lágrima por isso, mas eu sofri muito. Imagine você ter cometido um erro e ter que pagar por esse erro todos os dias, todos os dias entrar na sala de aula e ver as pessoas comentando sobre você, ao ver os meninos no intervalo de aula fazendo mangação daquilo que você fez tão insensata, quando estava bêbada.
Aprendi a lição. Coisa que não vai servir mais pra mim, mas que eu sempre vou passar para quem eu ver adentrar na universidade. É que:
−Não pense que universidade é o conto de fadas que a gente sempre sonhou quando estudava para o vestibular, não confie nos seus amigos, tenha um olho no padre e outro na missa, e jamais, jamais beba com esse seus amigos da universidade, pessoas que você mal conhece.
Ter ficado com Julio além de ter me rendido essa tamanha humilhação me serviu também para me afastar das pessoas. De certa forma eu ficava com vergonha do que aconteceu, e eu mesma me afastei. Eu só tinha um amigo na sala, meu fiel escudeiro gay, Erivaldo, meu amigo de sempre da universidade. Mas no segundo período não pudemos pegar matérias juntos, e eu também não tinha feito amizade com as outras pessoas da minha sala, e fiquei sozinha. Também peguei poucas matérias e isso aumentou ainda mais a minha solidão. Porque a maior parte do tempo eu ficava sem fazer nada na universidade e sozinha, sem ter um alguém pelo menos para conversar, e quando conhecidos me viam eu também sentia vergonha por estar sozinha.
Mas de certa forma, magoada do jeito que eu estava, eu achava melhor estar distante daquelas pessoas falsas da minha sala.
Nesse período, tudo mudou. Eu aprendi a abraçar as amizades falsas, mesmo sabendo que são falsas, porque pior que a falsidade é a solidão. Imagine só eu ter que ir almoçar no restaurante universitário sozinha, não ter um amigo pra me dizer o que o professor passou no dia que eu faltei. Eu tô pegando várias matérias com o pessoal da minha sala. E não é que eu me enturmei com esse povo? Esse mesmo povo que falava de mal de mim pelas costas e gargalhava de mim na minha frente.
Eles esqueceram esse passado, não comentam e nem fazem piadinha como faziam antes. Simplesmente, esqueceram. Mas eu não esqueci de nada.
Eu é que sei o que eu passei, o quanto eu perdi pela falta de caráter de Julio e pela falta de educação daqueles meninos. Beleza, melhor ter eles ao meu lado, tenho companhia, com quem rir, com quem conversar, com quem ir almoçar, mas é claro, eu odeio eles. O que eu tenho com eles acho pode se chamar de uma amizade neutra, em que a gente conversa coisas bobas, coisas dos outros, eu nunca mais vou sair pra uma festa pra beber com esse povo, eu nunca mais vou falar da minha vida pra esse povo, e vou ter muita atenção, aliás estou tendo com tudo que eles falam ou fazem, eles são uns merdas.
Ah, se eu te contar vocês não vão acreditar, sabia que nesse “povo” que falei também está incluído o Julio? Só que com ele eu não falo. Lembro que antes eu me afastei das pessoas porque ficava sem graça em estar com elas e Julio está presente, ah, enquanto eu me afastei das pessoas, ele fez amizade com todo mundo. Hoje superei completamente isso. Como? Simples. Faço de conta que ele não existe. Pra mim é como um ser invisível, a voz dele pra mim é latido de cachorro. E o mais interessante é que estudamos juntos, andamos com os mesmos amigos e até almoçamos juntos. Mas eu não faço a mínima questão de falar com ele, e mesmo que um dia as necessidades da vida me obriguem a isso, que vou relutar o possível porque o meu orgulho é maior, eu nunca vou voltar a ser amiga dele. Dele eu quero distância e vingança. Apesar que o desejo de vingança já diminuiu a medida que eu vou superando o mal que ele me causou, mas não pode desaparecer, ele merece pagar pelo que me fez, e vai pagar, mais cedo ou mais tarde, me aguarde.
Hoje graças a Deus que é Pai eu tenho uma vida normal de uma universitária, uma vida digna. Sem traumas, sem solidão, sem bullying. Mudei em alguns aspectos pra melhor, como me arrumar mais, aceitar com mais facilidade as amizades falsas e ignorar Julio. Eu só tenho a agradecer a Deus pelas graças de hoje, e pelas desgraças de ontem, não que eu quisesse que elas tivessem acontecido, se eu pudesse eu apagava da minha vida, mas como não tem como apagar, só me fez crescer e aprender a conviver com isso. Se não fosse pelas desgraças de ontem talvez eu ainda seria aquela menina tímida, que andava igual a uma flageladinha com qualquer roupa e com cabelo sempre preso como um rabo de cavalo, horroroso.
Hoje eu procuro me culpar o menos possível das coisas e mesmo assim a reconhecer os meus erros e me responsabilizar por eles. Eu ainda falto muita coisa a superar na minha vida, muitas mesmo, mas é notável a minha mudança.
Adorei o blog garota de várias faces!
ResponderExcluirOs textos e tudo , algo que despertou a minha curiosidade! kkkkkkk
Estou te seguindo, quando possível, dê uma passada no meu também.
Abraço, God bless you ! :**
http://meus-pensamentos-aleatorios.blogspot.com.br/
MUDANÇAS SÃO SEMPRE NECESSÁRIAS. É COMO DIZ AQUELE VELHO DEITADO: "SEJA VOCÊ MESMO,MAS NÃO SEJA SEMPRE O MESMO".
ResponderExcluirDEPOIS PASSA LÁ:
http://thebigdogtales.blogspot.com.br/2012/04/o-monge-e-o-licantropo-final.html